A economia colaborativa é, sem dúvidas, um assunto bastante interessante de se discutir, especialmente agora.
Agora porque a fase de ouro da economia colaborativa já até passou. A maioria dos conteúdos relacionados com ela foi escrito há 5, 8 ou 10 anos atrás. A discussão esfriou.
Porém, ao mesmo tempo, iniciativas de economia colaborativa criadas nesse boom pré-pandêmico estão em funcionamento até hoje, com uma grande adesão de usuários.
Um exemplo clássico: as bicicletas alugadas, que estão presentes em qualquer metrópole já há uma década, pelo menos.
Ao mesmo tempo, estamos vivendo em um cenário em que os próprios consumidores e trabalhadores estão esperando avanços nesse sentido. Avanços que, em muitos casos, custam e tardam a chegar.
No texto de hoje, vamos falar bastante sobre a economia colaborativa pós-pandemia. Você vai perceber que o foco da discussão é um pouco diferente de como era 10 anos atrás.
Hoje, as pautas são mais práticas e maduras, levando em conta não só a experiência do consumidor com a marca, mas da marca consigo própria e com o planeta.
Também vamos conversar com você, empreendedor, que está buscando investir na economia colaborativa de alguma forma: seja abrindo uma start-up, um negócio tradicional ou mesmo transformando uma marca que já está em atividade.
Para isso, precisamos começar do começo:
A economia colaborativa na realidade corporativa — recap e o que existe hoje
Os primeiros avanços da economia colaborativa aconteceram no início da segunda década do século XXI — entre 2010 e o início da pandemia.
Os exemplos principais são, claro, os aplicativos de compartilhamento de serviços que antes eram reservados a fornecedores com CNPJ, e passaram a ser fornecidos como serviços de pessoa físicas para outras pessoas físicas.
Nessa relação de consumo, a plataforma — no caso, os apps — eram os mediadores, lucrando ou com um percentual do pagamento, ou apenas com anúncios.
Os exemplos mais fortes dessa relação existem até hoje e já fazem parte do zeitgeist cultural mundial: Uber e AirBnB.
Porém, podemos entender também as plataformas de vendas, como o eBay e sua contraparte latina Mercado Livre como os primeiríssimos exemplos da economia colaborativa aplicada.
Aplicativos como a OLX e o Facebook Marketplace foram na rota da democratização total — eles não recebem percentuais das vendas realizadas, funcionando como um catálogo democrático. Você só paga se quiser ter mais visibilidade nos seus produtos.
Tudo isso está muito bem explicado no livro seminal da economia colaborativa com foco corporativo — What’s Mine is Yours, de Rachel Botsman e Roo Rogers.
O livro traz uma abordagem corporativa e mercadológica ao impulso colaborativo que as pessoas sempre tiveram.
Segundo Botsman e Rogers, esse impulso colaborativo foi facilitado pelas tecnologias sociais e pelos aplicativos, que viabilizaram um modelo de negócios que antes era muito complicado de colocar em prática.
Ao longo dos anos, a economia colaborativa com foco mercadológico e de marketing veio se transformando. Trouxe alguns exemplos além desses para entendermos melhor o que ela está se tornando:
Turo
Turo é uma plataforma de compartilhamento de carros que permite que proprietários aluguem seus veículos diretamente a outras pessoas.
O serviço funciona como uma alternativa às locadoras tradicionais, oferecendo preços mais acessíveis e maior diversidade de modelos.
Os proprietários controlam a disponibilidade, o preço e as condições de uso, enquanto os usuários encontram veículos que atendem suas necessidades específicas, desde opções econômicas até modelos de luxo para ocasiões especiais.
- Modelo de negócio: a plataforma recebe uma comissão sobre cada aluguel.
- Transformação: democratiza o acesso ao transporte sem necessidade de frota própria.
Esse é o modelo marketplace. Você vai perceber que a maioria das plataformas que opera sob preceitos da economia colaborativa hoje segue esse padrão.
TaskRabbit
TaskRabbit conecta pessoas que precisam de ajuda para realizar tarefas diárias com “taskers” dispostos a executá-las.
As tarefas variam de montagem de móveis e pequenos reparos a mudanças e limpeza. A plataforma facilita o contato direto entre contratantes e trabalhadores, eliminando intermediários tradicionais.
- Modelo de negócio: a TaskRabbit cobra uma taxa por transação.
- Transformação: amplia o acesso a serviços sob demanda e incentiva o uso de habilidades individuais.
O sistema é simples: contratantes descrevem o serviço necessário, escolhem entre taskers disponíveis e combinam preços e horários.
Esse é o modelo marketplace de serviços, que fomenta o que é chamado de gig economy, um termo até um pouco pejorativo ao avaliar esse tipo de iniciativa como algo intrinsecamente ruim para a parte contratada.
Porém, é inegável que esse tipo de serviço sempre teve demanda, até antes de plataformas como o TaskRabbit.
Nos EUA com o Craigslist, e aqui no Brasil com os famosos Maridos de Aluguel, que já anunciavam seus serviços em jornais, panfletos e cartazes bem antes do Facebook Marketplace.
Vinted
Vinted é uma plataforma focada na compra, venda e troca de roupas e acessórios de segunda mão.
Com uma interface intuitiva, usuários podem listar itens que não usam mais, oferecendo-os para um público global interessado em moda sustentável e acessível.
O objetivo da Vinted vai além do comércio: ela promove a reutilização de peças, reduzindo o impacto ambiental causado pela indústria da moda.
- Modelo de negócio: taxa opcional por serviços adicionais, como maior visibilidade nos anúncios.
- Transformação: promove sustentabilidade e oferece um mercado global para produtos usados.
Os vendedores controlam o preço de seus itens e podem negociar diretamente com compradores.
Além disso, a plataforma oferece ferramentas de pagamento e envio, simplificando as transações.
A economia circular na moda já existe desde que o mundo é mundo. Brechós são um grande exemplo disso — inclusive, o nome “brechó” vem de Belchior, o português que abriu a primeira loja de produtos usados do Brasil, no século XIX.
E falando em Brasil, o Enjoei já é um grande exemplo de economia circular desde muitos anos, sendo praticamente sinônimo de revenda de produtos (geralmente de alto padrão) usados.
BlaBlaCar
BlaBlaCar é uma plataforma de caronas que conecta motoristas com assentos disponíveis a passageiros que precisam viajar na mesma direção.
Seu nome reflete o diferencial do serviço: a possibilidade de escolher companheiros de viagem com base em preferências, como o nível de conversa durante o trajeto (de “Bla” a “BlaBlaBla”).
Essa personalização cria uma experiência mais social e colaborativa.
- Modelo de negócio: comissão por viagem realizada.
- Transformação: reduz custos de transporte e otimiza o uso de veículos particulares.
O serviço é vantajoso tanto para motoristas, que podem dividir custos de combustível e pedágio, quanto para passageiros, que encontram viagens econômicas e convenientes.
Além disso, a plataforma contribui para a sustentabilidade ao diminuir o número de carros nas estradas, reduzindo emissões de carbono e incentivando o compartilhamento de recursos.
Patreon
Patreon conecta criadores de conteúdo diretamente a seus apoiadores, permitindo que artistas, escritores, músicos e outros profissionais monetizem seu trabalho de forma recorrente.
Os usuários podem oferecer conteúdos exclusivos, acesso antecipado a projetos ou recompensas personalizadas em troca do apoio financeiro dos “patrons”.
- Modelo de negócio: comissão sobre o valor arrecadado pelos criadores.
- Transformação: fomenta a economia criativa e permite a independência financeira de criadores.
A plataforma é especialmente popular entre criadores que produzem materiais para nichos específicos, que muitas vezes não encontram espaço nos modelos tradicionais de financiamento. O Patreon permite que esses profissionais construam comunidades engajadas, oferecendo suporte financeiro previsível para viabilizar seus projetos.
De longe, o Patreon foi a plataforma mais importante para a comunidade produtora de conteúdo na internet, especialmente no YouTube.
Ele viabilizou, junto com os recursos de monetização do YouTube, o que entendemos como a creator economy.
A própria creator economy é um grande exemplo da economia colaborativa no âmbito digital.
E esse assunto é muito interessante de tratar, porque ele leva a economia colaborativa a outros patamares — ela transcende o mercado e passa a ter impactos sociais fortes.
Veja como:
A economia colaborativa independente
Tudo isso que conversamos até agora é para mostrar como a economia colaborativa funciona no marketing, principalmente.
Lembrando que marketing não é só divulgação. Estratégias go-to-market pautadas em economia colaborativa são a grande tendência da última década e até da que estamos hoje.
Mas ao mesmo tempo, a economia colaborativa se dá em níveis que vão além dessas estratégias de mercado. Elas são criadas constantemente por pessoas.
A creator economy que mencionamos é um exemplo bem claro disso. É um movimento criado por pessoas para pessoas. Em muitos casos, à despeito das plataformas.
O Patreon é um estudo de caso interessantíssimo, porque em muitos casos ele é a forma de remuneração que os creators conseguem ter por conta da desmonetização de conteúdo no YouTube.
Essa economia colaborativa independente muitas vezes pauta as soluções corporativas e de mercado que vão surgindo. Ficar de olho nelas é interessantíssimo para quem está buscando se inserir nessa área.
Veja mais 5 exemplos de plataformas que apoiam esse economia colaborativa independente logo abaixo. A primeira é um dos maiores cases de sucesso da creator economy.
1. Twitch
Twitch é uma plataforma de streaming ao vivo que conecta criadores de conteúdo com seus públicos em tempo real. Originalmente focada em jogos, expandiu-se para transmissões de música, arte e outros interesses, sendo um exemplo poderoso da economia colaborativa na creator economy.
Criadores monetizam por meio de assinaturas pagas, doações dos espectadores e anúncios, com a plataforma recebendo uma porcentagem dessas receitas.
- Modelo de negócio: comissão sobre assinaturas, doações e receitas de anúncios.
- Transformação: permite que criadores interajam diretamente com suas comunidades e monetizem em tempo real.
O diferencial da Twitch é a interação ao vivo entre criadores e público, que fomenta uma sensação de comunidade e exclusividade.
Os espectadores podem apoiar seus streamers favoritos diretamente, seja através de doações ou inscrições que desbloqueiam benefícios exclusivos.
Essa proximidade redefine o consumo de conteúdo online, transformando espectadores em participantes ativos e demonstrando como a economia colaborativa se adapta à era do streaming.
Substack
Substack é uma plataforma que permite que escritores publiquem newsletters diretamente para seus assinantes, monetizando seu conteúdo sem depender de publicidade ou grandes editoras.
Esse modelo descentralizado é um exemplo de como a economia colaborativa está redefinindo o jornalismo e a produção de conteúdo escrito.
- Modelo de negócio: cobrança de uma porcentagem do valor das assinaturas pagas.
- Transformação: empodera escritores independentes e cria comunidades engajadas ao redor de temas específicos.
A plataforma oferece ferramentas simples para que criadores publiquem e distribuam seu conteúdo, focando no relacionamento direto com o público.
Além de oferecer liberdade editorial, o Substack incentiva a criação de conteúdos mais nichados, que dificilmente teriam espaço nos meios tradicionais. Isso demonstra como a economia colaborativa pode sustentar iniciativas individuais e transformar indústrias.
Ko-fi
Ko-fi é uma plataforma que permite a criadores receberem pequenas contribuições financeiras de seus apoiadores, como se fosse um “café virtual”.
Ela combina o conceito de economia colaborativa com a simplicidade de microtransações, possibilitando que pessoas mostrem apoio de maneira pontual ou recorrente.
- Modelo de negócio: taxas opcionais em assinaturas ou doações, e planos premium para criadores.
- Transformação: viabiliza apoio financeiro rápido e direto entre criadores e seus públicos.
Diferente de outras plataformas, o Ko-fi se destaca por ser acessível tanto para quem doa quanto para quem recebe.
Criadores podem compartilhar links de apoio em redes sociais ou incorporá-los em seus projetos digitais.
O modelo mostra como a colaboração entre indivíduos pode criar alternativas sustentáveis para financiamentos criativos, sem depender de grandes estruturas ou investimentos iniciais.
Gumroad
Gumroad é uma plataforma que conecta criadores diretamente com compradores, permitindo a venda de produtos digitais como livros, músicas, cursos e artes.
Simples e acessível, ela elimina intermediários tradicionais e oferece controle total sobre o processo de venda.
- Modelo de negócio: cobra uma taxa por transação realizada.
- Transformação: simplifica o e-commerce para criadores e pequenos empreendedores.
O diferencial do Gumroad está na facilidade de uso e nas possibilidades de personalização. Criadores podem lançar produtos rapidamente, testando ideias e alcançando públicos diversos.
Ele demonstra como a economia colaborativa pode tornar o comércio digital acessível para indivíduos e pequenas equipes, promovendo a criatividade e o empreendedorismo.
Bandcamp
Bandcamp é uma plataforma que conecta músicos diretamente a seus fãs, permitindo que vendam músicas, álbuns e mercadorias de forma independente.
Os artistas controlam preços e recebem a maior parte da receita, com uma pequena taxa sendo destinada à plataforma.
- Modelo de negócio: comissão sobre vendas realizadas.
- Transformação: empodera músicos ao reduzir a dependência de gravadoras e distribuidores.
Além de promover a independência financeira dos artistas, o Bandcamp também é uma plataforma para descobrir novas músicas.
Ele se tornou especialmente relevante em um cenário onde o streaming domina, oferecendo uma alternativa mais justa para artistas independentes.
Essa abordagem colaborativa permite que músicos criem conexões mais profundas com seus fãs, mostrando o poder do apoio direto na economia criativa.
O que entender caso você queira se lançar no mercado de economia colaborativa
Os tempos estão mudando, mas a economia colaborativa não muda tanto em conceito.
O que vimos aqui ao longo do texto é a evolução natural da economia colaborativa.
As primeiras plataformas que estamos tratando são as mais antigas — perceba como elas, em muitos casos, criam as demandas para os usuários.
No caso do Uber e do AirBnB, as demandas por colaboração foram atendidas, mas os modelos de negócio já existiam há séculos.
Quem está buscando se lançar nesse mercado precisa estudar o comportamento das pessoas, especialmente online.
Essa é a era da disrupção, e a disrupção acontece assim — entendendo o que as pessoas querem, e oferecendo isso para elas.
Nossa recomendação é que você fique cada vez mais por dentro do mundo da economia colaborativa independente. Veja quais iniciativas estão surgindo, e como está a aceitação delas para o público.
O Reddit, uma das maiores redes sociais do mundo, nasceu inspirado em fóruns, que existem no mínimo desde a invenção do HTML.
As redes sociais e os aplicativos de mensagem foram inspirados por correntes de e-mails, SMS e até por salas de bate papo online.
É na economia colaborativa independente que as grandes ideias surgem.
Essas ideias têm um potencial de disrupção tão forte que elas não vão para o mercado. Elas se tornam o mercado.
Agora uma última recomendação antes do texto acabar.
Você pode estar pensando em como a sua empresa pode usar a economia colaborativa, ou como ela pode transformar o mercado em que ela está inserida.
Além de fazer benchmarks, você precisa de criativos na sua equipe.
A Adtail é a agência ideal para quem busca criatividade com crescimento. Somos focados em dados, mas não no que eles estão dizendo sobre a sua realidade do momento, e sim no que eles dizem sobre o seu futuro.
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